boas intenções

De boas promoções está o inferno cheio.

Não são raras as vezes em que ouvimos, com indignação e perplexidade, que foi atribuída uma promoção à pessoa errada – ou até a alguém que nem queria estar nessa posição. Estas oportunidades são frequentemente justificadas pela chefia com frases como: “é a pessoa tecnicamente mais competente para o cargo” ou “merece ser recompensada pelo esforço e excelente trabalho que tem feito”. Mas no meio de tanto entusiasmo, esquece-se muitas vezes de refletir sobre algo essencial: essa pessoa quer, sente-se preparada, tem vontade de assumir esse novo desafio?

A boa intenção está certamente lá – mas, como diz a gíria portuguesa, “de boas intenções está o inferno cheio”.

Ser bem-intencionado não basta, sobretudo quando não conhecemos verdadeiramente quem é o alvo dessa intenção.

O que para a pessoa A pode ser vivido como uma promoção, para a pessoa B pode ser sentido como uma punição. E é por isso que liderar é uma tarefa exigente, constante e desafiante: porque implica estar genuinamente conectado com aqueles que estão à nossa responsabilidade – conhecer os seus interesses, as suas perspetivas de carreira e as suas competências para além do CV.

Mas afinal, qual é o problema – ou o impacto – de distribuir promoções desta forma? Afinal, a intenção é boa e até vem acompanhada de um acréscimo salarial!A verdade é que todos podem sair prejudicados: a empresa, a equipa e a própria pessoa envolvida na promoção. 

 

VEJAMOS DE QUE FORMAS POSSÍVEIS:

 

Consequência 1. Pessoa promovida desmotivada porque não quer ou sente que não é capaz de desempenhar aquelas funções, resultando também em ansiedade, cansaço e baixa produtividade.

Consequência 2. Equipa revoltada porque tem convicções sobre “quem seria a pessoa mais apta para a promoção”, criando uma sensação de injustiça e desconexão com as lideranças. Para além disto, há uma quebra de eficiência e produtividade devido a uma promoção que tem consequências diretas na dinâmica da equipa e na forma como se organiza.

Consequência 3. Empresa perde dinheiro por ter equipas desmotivadas, mal orientadas e com a sensação de injustiça presentes. Pode resultar ainda na perda de talento, absentismo e baixas médicas.

Consequência 4. Líderes a serem percebidos como pouco competentes e, por isso mesmo, perdem poder, consideração e respeito por parte dos seus colaboradores.

Consequência 5. Os clientes ressentem-se da instabilidade interna.

 

Equipas desalinhadas, líderes pouco respeitados e profissionais desmotivados tendem a prestar um serviço menos atento, menos personalizado e menos eficiente. A insatisfação interna escapa sempre para fora – e o cliente é muitas vezes o primeiro a percebê-lo, mesmo sem saber exatamente porquê.

No fim, uma promoção não é um presente: é uma proposta. E como qualquer proposta, deve ser feita com escuta, empatia e honestidade. Porque reconhecer o mérito não é o mesmo que projetar expectativas. E porque, às vezes, o melhor líder é aquele que sabe perguntar antes de entregar.